Em um cenário em que a expectativa de vida aumenta, cresce também a necessidade de se discutir com mais profundidade a realidade dos casais idosos, sobretudo no que diz respeito à solidão vivida a dois. Engana-se quem pensa que a presença constante do outro basta para afastar o sentimento de isolamento. Muitos casais, mesmo sob o mesmo teto, enfrentam uma convivência silenciosa, sem afeto, diálogo ou cumplicidade, o que pode causar um impacto significativo na saúde física e emocional.
A chamada “solidão acompanhada” é um fenômeno cada vez mais presente entre idosos. Com o passar dos anos, é comum que as rotinas se tornem previsíveis, que as diferenças antes ignoradas se tornem obstáculos intransponíveis e que o diálogo vá se esvaindo. A ausência de escuta, carinho e presença afetiva gera um tipo de vazio que afeta diretamente o bem-estar.
Estudos mostram que a solidão crônica está associada ao aumento de problemas cardiovasculares, depressão, insônia, perda de apetite e enfraquecimento do sistema imunológico. No caso de casais idosos, esses efeitos são agravados pelo paradoxo da proximidade física e do distanciamento emocional. A sensação de não ser mais visto ou valorizado dentro da própria casa pode gerar ansiedade e baixa autoestima.
Além disso, a falta de interação emocional pode acelerar processos de deterioração cognitiva, como o Alzheimer. Isso ocorre porque o cérebro precisa de estímulos constantes – conversas, trocas afetivas, desafios intelectuais – que muitas vezes deixam de existir em relações marcadas pela indiferença.
Reverter esse cenário exige esforço mútuo. Pequenos gestos de atenção, escuta verdadeira e demonstrações de carinho são capazes de reavivar o vínculo e combater o isolamento emocional. Famílias e profissionais da saúde também têm papel importante ao identificar sinais de afastamento e incentivar atividades sociais, terapia de casal ou até mesmo rodas de conversa com outros idosos.
Envelhecer ao lado de alguém deveria significar partilhar experiências e afetos, não apenas dividir o mesmo espaço. O combate à solidão de casais idosos não passa apenas por ações externas, mas pela redescoberta da importância do outro – um processo que pode transformar os últimos anos de vida em um tempo de reencontro, dignidade e ternura.
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